o meu odor nostálgico de infância é o cheiro da tinta fresca acabada de imprimir sobre o papel saindo uma máquina de offset. conheci-o com o meu pai que aos fins de semana imprimia as minhas primeiras bandas desenhadas na máquina do escritório. acompanhou-me na revelação maravilhada dos grandes lençóis de papel na gráfica da revista Tintin da minha adolescência. e faço questão de acompanhar a impressão de todos os meus livros, zelando por um parto adequado. as gráficas são para mim como maternidades, ou melhor, como grandes barcos (as mães, esses grandes veleiros?). em caves ou pavilhões iluminados por cruas lâmpadas florescentes sigo as tarefas precisas, físicas e sabedoras desses marinheiros chamados impressores. se calha ganhar-lhes a confiança ou empatia, escuto-lhes as confidências do ofício feitas de apertos estratégicos, graus de humidade, papéis caprichosos. e discutimos os meus desenhos como se de arqupélagos se tratassem, comentamos-lhes a navegabilidade. destas tarefas rudes depende a chegada a bom porto do meu livro.